O
ESPIRITISMO E O JESUS HISTÓRICO (Autor Fabiano Pereira Nunes)
Artigo publicado na REVISTA CULTURA ESPÍRITA, do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, ano V, abril de 2013, ano 48, p.15.
“Não esqueçais que o objetivo essencial, exclusivo, do Espiritismo, é o vosso melhoramento e é para o alcançardes que é permitido aos Espíritos iniciar-vos na vida futura, oferecendo-vos exemplos de que podeis aproveitar.” Allan Kardec. (1)
Dentre os inumeráveis esforços em
dividir, para fins de estudo, as matérias contidas nos Evangelhos do Novo
Testamento, um se nos apresenta com ímpar qualidade didática: àquele oferecido
por Allan Kardec, na introdução de O
Evangelho Segundo o Espiritismo (2).
O Apóstolo
Lionês de O Espírito de Verdade
elucida-nos que as matérias contidas nos Evangelhos podem ser divididas em
cinco partes: os milagres; as
predições; as palavras que serviram para o estabelecimento dos dogmas da
Igreja; o ensinamento moral; e os atos comuns da vida do Cristo. Tais conjuntos
são - numa extraordinária combinação de coragem, inteligência e inspiração –
interpretados, e encontrados permeando todas as obras publicadas pelo
Codificador do Espiritismo. Conquanto, para fins didáticos, poder-se-ia
atribuir uma obra Kardeciana para o estudo de cada divisão.
- Os milagres de Jesus: são
analisados e elucidados na obra “A Gênese, Os Milagres e as Predições Segundo o
Espiritismo”;
- As predições ou profecias dos evangelhos:
interpretadas e explicadas na obra “A Gênese, Os Milagres e as Predições
Segundo o Espiritismo”;
- As palavras que serviram para o
estabelecimento dos dogmas da Igreja: criticadas e esclarecidas na obra “O Céu
e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo”;
- O ensinamento moral: desenvolvido no livro “O
Evangelho Segundo o Espiritismo”;
- Os atos comuns da vida do Cristo: não por
acaso, Allan Kardec não desenvolveu os aspectos históricos e historiográficos
da vida de Jesus de Nazaré, em nenhuma de suas obras.
Diante dessa lacuna, seria natural questionar se os
espíritos não poderiam trazer comunicações espirituais que possibilitassem o
acesso aos fatos históricos, oferecendo as peças que faltam à compreensão do chamado
“Jesus Histórico”.
O professor HLD Rivail/Allan Kardec, pedagogo
laureado pelas principais academias de ciências da sua época, foi sempre
enfático ao enunciar não ser objetivo essencial do espiritismo concorrer com as
ciências, abrangendo as ciências históricas, cabendo à própria Ciência desvelar
os fatos históricos da vida do Cristo. Muito ao contrário, o Enviado fiel de O
Espírito de Verdade sempre apregoou que fossem rejeitadas as comunicações
espirituais que estivessem em contradição com os dados positivos da Ciência
(3), relativos aos avanços de cada época.
E para dirimir quaisquer
dúvidas sobre o fim precípuo do espiritismo face às ciências, o Codificador postulou
diretrizes seguras, como, por exemplo:
“Os bons
espíritos vêm nos instruir tendo em vista o nosso melhoramento e o nosso
progresso, e não para nos revelar o que
ainda não devemos saber, ou o que devemos aprender com o nosso esforço.
Se fosse suficiente interrogar os espíritos para obter a solução de todas as
dificuldades científicas, ou para fazer descobertas e invenções lucrativas,
todo ignorante poderia se tornar sábio a um preço muito baixo e todo preguiçoso
poderia enriquecer sem trabalho; é o que Deus não quer que aconteça. Os
espíritos ajudam o homem de talento pela inspiração oculta, mas não o isentam
do trabalho nem das pesquisas a fim de lhe deixar o mérito” (4).
“Os espíritos não vêm para livrar o homem do trabalho, do estudo e
das pesquisas; eles não lhe fornecem nenhuma ciência inteiramente pronta, e o
que o homem pode descobrir por si mesmo, eles deixam entregue às suas próprias
forças” (5).
“Os Espíritos podem guiar os homens nas pesquisas científicas e nas descobertas?
A Ciência é obra do gênio; só deve ser adquirida pelo trabalho, pois é somente
pelo trabalho que o homem se adianta no seu caminho. Que mérito teria, se
apenas precisasse interrogar os Espíritos para saber tudo? A esse preço,
qualquer imbecil poderia tornar-se sábio. O mesmo se dá com as invenções e
descobertas da indústria. Depois, uma outra consideração, é que cada coisa deve
vir a seu tempo e, quando as ideias estão maduras para recebê-la; se o homem
tivesse este poder, subverteria a ordem das coisas, fazendo que aparecessem os
frutos, antes da estação própria. Deus disse ao homem: tirarás teu alimento da
terra, com o suor de teu rosto; admirável figura que pinta a condição em que
ele, aqui, se encontra; ele deve progredir em tudo, pelo esforço do trabalho;
se lhe dessem as coisas inteiramente prontas, de que lhe serviria sua inteligência?
Seria como o estudante, cujo dever, um outro fizesse” (6).
Diante das alocuções – lógicas, lúcidas e
insofismáveis – do mestre Allan Kardec, reflitamos sobre as notícias ditas históricas,
apresentadas na literatura mediúnica. Que sejam consideradas como
probabilidades ou hipóteses (7), se forem extremamente lógicas e concordantes
com os dados estabelecidos pelas Ciências Históricas, a fim de não nos
distanciarmos daquilo que é o objetivo essencial e exclusivo do espiritismo (1):
o progresso moral da humanidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(1)
KARDEC, Allan: “Perguntas
sobre a destinação dos Espíritos”. O Livro dos Médiuns. Tradução
de Maria Lúcia Alcantara de Carvalho. 1ª Ed., Rio de Janeiro: Leon Denis
Gráfica e Editora, 2010. Segunda parte, Capítulo XXVI, Item 22. p. 364.
(2)
Idem. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Albertina Escudeiro
Sêco. 5. Ed., Rio de Janeiro, Leon Denis Gráfica e Editora: 2010, Introdução,
item 1. p. 19-22.
(3) Idem: “Segunda Carta ao Padre
Marouzeau”. Revista Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos. Ano VI, Setembro de 1863. Tradução
de Evandro Noleto Bezerra. 3. Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. p. 377.
(4)
Idem: “Objetivo Providencial das Manifestações Espíritas”. O que é o Espiritismo. Tradução
de Albertina Escudeiro Seco. 3. Ed., Rio de Janeiro: Leon Denis Gráfica e
Editora, 2010. Capítulo II, Item 50. p. 163
(5) Idem: “Fundamentos da Revelação Espírita”. A Gênese. Os Milagres e As Predições
Segundo o Espiritismo. Tradução de Albertina Escudeiro Sêco. 2ª Ed.,
Rio de Janeiro, Leon Denis Gráfica e Editora: 2008. Cap. I, item 60. p. 58.
(6) Idem:
“294. Perguntas Sobre as Invenções e Descobertas”. O Livro dos Médiuns. Tradução de Maria Lúcia Alcantara
de Carvalho. 1ª Ed., Rio de Janeiro: Leon Denis Gráfica e Editora, 2010.
Segunda parte, Capítulo XXVI, Itens 28 e 29. p. 366-367.
(7) Idem: “Exame crítico das dissertações de Charlet sobre os animais –
Observação Geral”.
Revista
Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos. Ano III, Julho de 1860. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2.
Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. p. 331.