MOSTRAI-ME
UM DENÁRIO
Artigo
publicado na REVISTA CULTURA ESPÍRITA, do Instituto de Cultura Espírita do
Brasil, ano V, n 53, agosto de 2013, p. 15.
Autor
Fabiano Pereira Nunes
"Mostrai-me
um denário. De quem traz a imagem e a inscrição?" Responderam: "De
César". Ele disse então: "Devolvei, pois, o que é de César
a César, e o que é de Deus a Deus". JESUS (Lucas 20: 25-5)
Para insignes estudiosos a notável
comunicabilidade de Jesus se constitui numa das mais atraentes matérias de
pesquisas. Professor carismático, Seus ensinos atravessaram os séculos com
espantosa aplicabilidade e pragmatismo. E dentre os recursos que Jesus - com genialidade
– aplicara, a arte de contar histórias se nos destaca em importância.
Através de belas e simples parábolas,
Jesus discutia os problemas cotidianos da vida na Judeia, sempre adequando o
diálogo ao nível sócio-cultural dos ouvintes, para que fossem muito bem
apreendidas, e dessa forma o Mestre - de forma apaixonante - desenvolvia as
inteligências nas artes de pensar e de viver, e ao mesmo tempo, desveladava as Leis
Morais que o espiritismo possibilitou a integral compreensão.
O impacto das parábolas na alma
desses ouvintes foi tão significativo que essas histórias foram recordadas com
sutilezas e precisão de informações mais de seis décadas depois, no período em
que os Evangelhos começaram a ser escritos.
Allan
Kardec, codinome do notável cientista e pedagogo francês H L D Rivail, que
recebeu do próprio Espírito da Verdade a missão de promover o advento do
Consolador na Terra, elucida que “para se
compreender melhor algumas passagens dos Evangelhos é necessário conhecer o
valor de certas palavras, que neles são empregadas frequentemente e que
caracterizam a situação da sociedade judaica e dos costumes naquela época. Essas
palavras, não tendo mais, para nós, o mesmo sentido, muitas vezes foram mal
interpretadas e, por isso mesmo, criaram muitas dúvidas. A compreensão do seu
significado explica, além disso, o verdadeiro sentido de certas máximas que, à
primeira vista, parecem estranhas”.(1)
Nesse sentido se faz oportuno
conhecer alguns dos dinheiros da época histórica de Jesus, com o fito de bem entender
o sentido de algumas mensagens ensinadas por parábolas. (2)
DENÁRIO: moeda
romana de prata, seria a unidade básica de pagamento romano por um dia de
trabalho. Teria dado origem a palavra “dinheiro”. Citada na “Parábola
dos trabalhadores da vinha” (Mateus 20:1-2) — “Porque o Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que saiu de
manhã cedo para contratar trabalhadores para a sua vinha. Depois de combinar
com os trabalhadores um denário por dia, mandou-os para a vinha”.
DRACMA: moeda grega
de prata, cujo valor seria equivalente a 1 denário. É o caso da “dracma perdida” (Lucas
15:8) — “Ou qual a mulher que,
tendo dez dracmas e perder uma, não acende uma lâmpada, varre a casa e procura
cuidadosamente até encontrá-la?”.
CEITIL ou ASSE: moeda
romana de cobre, cujo valor seria equivalente a 1/16 do denário. Citada em “A nova justiça é superior à antiga” (Mateus 5:26)
— “Em verdade te digo:
dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo”.
QUADRANTE: Moeda
romana de cobre, cujo valor equivaleria a 1/64 do denário. Aparece em “A Esmola da Viúva Pobre” (Marcos 12:42) — “Vindo uma pobre viúva, lançou duas
moedinhas, isto é, um quadrante”.
ESTÁTER: moeda
grega de prata, cujo valor equivaleria a 4 denários. Citada em “O tributo para o Templo pago por Jesus e por Pedro”
(Mateus 17:27) — “Mas, para que não os
escandalizemos, vai ao mar e joga o anzol. O primeiro peixe que subir, segura-o
e abre-lhe a boca. Acharás aí um estáter. Pega-o e entrega-o a eles por mim e
por ti".
MINA: peça grega
de ouro, cujo valor seria equivalente a 100 denários. Narrada na célebre “Parábola das dez Minas” (Lucas 19:13) — “Chamando dez
de seus servos, deu-lhes dez minas e disse-lhes: 'Fazei-as render até que eu
volte”.
TALENTO: peça em
barra de ouro, cujo valor equivaleria a 6.000 denários. Consagrada na “Parábola dos talentos” (Mateus
25:14-15) — “Pois será como um
homem que, viajando para o estrangeiro, chamou os seus próprios servos e
entregou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois, a outro um.
A cada um de acordo com a sua capacidade”.
Essas breves pinceladas são alguns
exemplos que nos auxiliam a formar o quadro da importância de estudarmos os
costumes e o caráter dos povos do tempo de Jesus, pelo muito que influem sobre
o conhecimento particular de seus idiomas, haja vista que sem essas informações
nos escapará o sentido verdadeiro de certos ensinos de Jesus.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(1)
KARDEC,
Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Albertina
Escudeiro Sêco. 5. Ed., Rio de Janeiro, Leon Denis Gráfica e Editora: 2010.
Introdução, item III. p. 32.
(2)
A Bíblia Sagrada, Edição Comemorativa. Traduzida
em português por João Ferreira de Almeida. 2ª edição. Barueri, SP: Sociedade
Bíblica do Brasil, 1993. Auxílios para o leitor, p. 38-9.