JESUS: EXTRAORDINÁRIA COMBINAÇÃO DE CORAGEM E COMPAIXÃO
Artigo publicado na "Revista Despertar Espírita", ano V, n.60, junho de 2008.
A hanseníanse - não obstante já ser uma enfermidade curável – ainda prossegue envolta em muitos preconceitos e medos. No Brasil, até a década de 70, os portadores de hanseníase foram obrigados a viver em “colônias” de isolamento.
Tal carga de temor remonta eras ancestrais. No Velho Testamento, aparece, equivocadamente, sob a denominação de “lepra”. No livro de Moisés - O Levítico - encontramos Leis específicas para a vida dos portadores da doença de Hansen, sobretudo em seus capítulos 13 e 14. Nesses textos, deparamo-nos com a terminologia “imundos”, cujo sinônimo seria “impuro”, para os portadores da chamada “lepra”. Os Sacerdotes do Templo de Jerusalém possuíam autoridade coercitiva para examinar os hebreus que fossem suspeitos de portar as lesões lepromatosas na pele, e ao constatarem a presença da “lepra” os declaravam publicamente como “imundos”, determinando a expulsão desses hansenianos de seus lares, a destruição e queima de seus pertences, a adoção de uma aparência característica com vestimenta de maltrapilhos, com cabelos desgrenhados. Também estariam obrigados a proclamar em altas vozes a própria condição de “imundo”, tudo isso para garantir que não fossem tocados por qualquer pessoa, e que não houvesse aproximação alguma. Além disso, deveriam guardar distância em vários côvados (côvado era uma medida de distância, do inicio do cotovelo até o fim do dedo médio) das pessoas “limpas” sendo obrigados a viver fora dos muros das cidades, convivendo somente junto aos outros “imundos”.
Notadamente, as leis Mosaicas, como aquelas que tratam das condições que tornavam uma pessoa “imunda”, poderiam parecer discriminatórias e até desumanas, se analisadas isoladamente e fora do seu contexto sócio-cultural da época - não obstante - quando estudadas sob a óptica das ciências, como a moderna infectologia médica, seriam consideradas como medidas que serviram ao controle sanitário de gravíssimas doenças infecto-contagiosas. Por isso impunham regras de isolamento, sem as quais haveria a explosão de epidemias com altas taxas de contagiosidade.
Por outro lado, numa análise psicológica, poderíamos considerar que aquele povo escondia seus terríveis medos acerca da “lepra” usando essas leis como escudo, justificando de si para consigo, e para com a sociedade, atos que transbordavam preconceito, discriminação, e – sobretudo- aversão.
Felizmente, veio Jesus como O Amigo Verdadeiro dos excluídos e discriminados. Sua coragem e intrepidez marcaram de forma inapagável todos os seus passos. Através de exemplos de vida que reuniam uma extraordinária combinação de destemor, caráter e altruísmo, pregou de forma inolvidável, e estabeleceu uma nova abordagem ao problema da doença e dos doentes: a compaixão ativa, que de forma diferente da compaixão passiva transcende a esfera puramente emocional e supera todos os óbices, para mudar a vida dos desafortunados.
Com ímpar bravura, mantinha uma constante proximidade com os hansenianos, e com todos os considerados “imundos”, fato esse altamente surpreendente para os padrões religiosos da época, e altamente perturbador para aqueles que esperavam um Messias com as prerrogativas de um rei conquistador, pois além de romper as barreiras do preconceito para com esses “impuros”, de tratá-los com especial ternura e piedade, e de colocá-los na condição de amigos, se lhes aproximava fisicamente para acolhê-los, tocá-los e acariciá-los. Mantinha, contudo, completa obediência às leis de Moisés, demonstrando, por outro lado, sua correta interpretação à luz da Sua doutrina de amor.
Por exemplo, em Mateus (8:1 a 4): “Ora, descendo ele do monte, grandes multidões o seguiram. E eis que um leproso, tendo-se aproximado, adorou-o, dizendo: Senhor, se quiseres, podes purificar-me. E Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, fica limpo! E imediatamente ele ficou limpo da sua lepra. Disse-lhe, então, Jesus: Olha, não o digas a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e fazer a oferta que Moisés ordenou, para servir de testemunho ao povo”. Porquanto, a partir de ações grandemente impregnadas de compaixão ativa, que causaram um profundo impacto nos campos mental, emocional e espiritual daqueles enfermos, produziu curas prodigiosas, não só nos seus corpos adoecidos, como também nas suas almas enfermas e solitárias.
Destarte, O Mestre Devotado persiste fiel aos Seus amigos, levantando os decaídos e recuperando-os de suas mazelas, e permanentemente nos convida ao trabalho, para que também sejamos os braços e as mãos que servirão de instrumentos para que Ele prossiga tocando a humanidade, limpando-a de sua “lepra” moral, urgindo para isso que adotemos para nós os padrões de coragem e comiseração que O Amigo Incansável diariamente viveu e exemplou.
Fraternal abraço, Fabiano Pereira Nunes
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