“EU, PORÉM, VOS DIGO”
Artigo publicado na REVISTA CULTURA ESPÍRITA, do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, ano II, n. 21, dezembro de 2010, p. 15.
Notáveis pesquisadores têm defendido a tese de que o “Jesus Histórico” teria assumido uma postura revolucionária 1, face às práticas correntes na sociedade religiosa do Seu tempo.
Artigo publicado na REVISTA CULTURA ESPÍRITA, do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, ano II, n. 21, dezembro de 2010, p. 15.
Notáveis pesquisadores têm defendido a tese de que o “Jesus Histórico” teria assumido uma postura revolucionária 1, face às práticas correntes na sociedade religiosa do Seu tempo.
Realmente, para vários estudiosos das ciências históricas, a análise das assertivas contidas nos Evangelhos desvelaria a atitude de um religioso Judeu do Mediterrâneo 2 em antítese com os preceitos judaicos vigente à Sua época, que, por conseguinte, poder-se-ia considerar como um sedicioso.
Por exemplificação, observa-se na Pregação do Monte, conforme descrita no capítulo cinco de O Evangelho Segundo Mateus, um inequívoco intuito de desconstruir um pensamento vigente, substituindo-o por um conceito totalmente novo. O Mestre Amantíssimo empregara repetidas vezes a expressão: “Ouvistes que foi dito aos antigos (...)”, acompanhada, a seguir, de uma citação dos Livros Mosaicos; e concluindo a elocução, conduzira o pensamento dos ouvintes a uma nova interpretação da Lei Divina, ao aplicar expressão “Eu, porém, Vos digo (...)”. Por tal razão, àquele tempo Jesus fora perseguido pelas autoridades do Templo de Jerusalém como um antagonista das Leis de Moisés, conquanto Seus discursos fariam frontal contradita ao Pentateuco Mosaico.
Escrevera Moisés no Torá:
Êxodo, 21:24-25; olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe.
Levítico, 24:19-21; Quando também alguém desfigurar o seu próximo, como ele fez, assim lhe será feito: quebradura por quebradura, olho por olho, dente por dente; como ele tiver desfigurado a algum homem, assim se lhe fará. Quem, pois, matar um animal restituí-lo-á; mas quem matar um homem será morto.
Nada obstante, pregara Jesus no Monte das Beatitudes:
Mateus, 5:38 -39; Ouvistes que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra.
Mateus 5:43-44; Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem.
Em a perspectiva histórica, torna-se, pois, melhor compreensível o porquê da não aceitação - pela Religião Judaica - da condição Messiânica de Jesus.
Conquanto, dezenove séculos após, Allan Kardec, pseudônimo do eminente cientista e pedagogo francês Hipollyte Léon Denizard Rival - Apóstolo fiel e incansável de O Espírito de Verdade - elucida, definitivamente, tal problemática, em admirável hermenêutica 3:
“[...] A moral ensinada por Moisés era apropriada ao estado de adiantamento em que se encontravam os povos a quem ela estava destinada a regenerar. Esses povos, semi-selvagens quanto ao aperfeiçoamento da alma, não teriam compreendido que se pudesse adorar a Deus sem a realização de holocaustos, nem que fosse preciso perdoar a um inimigo. A inteligência deles, notável sob o ponto de vista da matéria e mesmo sob o das artes e das ciências, era muito atrasada em moralidade, e não seria convertida sob o domínio de uma religião inteiramente espiritual. Era-lhes necessária uma representação semi-material, como a que a religião hebraica lhes oferecia. Os holocaustos falavam aos seus sentidos, enquanto a idéia de Deus falava ao seu espírito. O Cristo foi o iniciador da moral mais pura, mais sublime; da moral evangélico-cristã que deve renovar o mundo, aproximar os homens e torná-los irmãos; que deve fazer jorrar de todos os corações humanos a caridade e o amor ao próximo, e criar, entre todos os homens, uma solidariedade comum; enfim, de uma moral que há de transformar a Terra, e dela fazer uma morada para espíritos superiores aos que hoje a habitam. É a lei do progresso, à qual a Natureza está submetida, que se cumpre, e o Espiritismo é a alavanca da qual Deus se utiliza para fazer a humanidade avançar. [...]”3
Outrossim, deveras relevante a perspectiva descortinada pela ciência médica, em transcendente aliança com a Doutrina Espírita. Em artigo publicado na revista Psychological Science 4, pesquisadores da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, observaram que orar pelo bem do cônjuge auxilia na disposição por perdoá-lo, sobretudo quando a oração for feita na iminência de conflitos. No trabalho científico, as pessoas deveriam, em primeiro lugar, fazer uma descrição da pessoa por quem fariam a oração. Depois de apenas uma oração, os voluntários se mostraram mais dispostos a compreender o ponto de vista do outro e aceitar suas desculpas, em claro processo de empatia. O estudo científico descreve, do mesmo modo, um segundo experimento no qual os voluntários fizeram orações diárias por um amigo próximo durante quatro semanas, também demonstrando o poder apaziguador da prece.
Ao fanal da ciência e da Exegese Kardeciana, apreenderemos, porquanto, que Jesus não fora um subversor das Escrituras Sagradas, mas, ao contrário, notabilizara-se como O Mais Perfeito Intérprete das Leis Divinas, na história da civilização humana.
1. MEIER, John P. Um Judeu Marginal: repensando o Jesus histórico. Vol. I. Rio de Janeiro, Imago Ed: 1993.
2. CROSSAN, John D. Jesus, Uma Biografia Revolucionária. Rio de Janeiro, Imago Ed: 1995.
3. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Albertina Escudeiro Sêco. 1. Ed., Rio de Janeiro, CELD Ed: 2008. Cap.I, item 9.
4. Comprovação do poder pacificador da oração. In: Revista Mente e Cérebro, edição online. Março de 2010. Capturado de
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