REVELAÇÕES DO PLANO ESPIRITUAL
(autor Fabiano Pereira
Nunes)
Artigo publicado na REVISTA CULTURA ESPÍRITA, do
Instituto de Cultura Espírita do Brasil, ano IV, numero 43, outubro de 2012, p.
15.
Desde
as ancestrais civilizações, busca o homem nas revelações dos seres invisíveis
respostas para as suas dúvidas e questionamentos. Remontando a mais recuada
antiguidade encontraremos tais registros.
Já
no Egito ancestral era vulgar a consulta aos mortos, por consequência, essa
experiência fora aculturada pelos hebreus ainda no período de cativeiro no Egito, sob o
nome de necromancia, sendo usada para a obtenção indiscriminada de conselhos e
favores, razão pela qual fez Moisés absoluta proibição de se evocarem os mortos (Levítico 19:31), sob
pena de morte (Levítico 20:6). Nada obstante essa proibição mosaica, muito conhecida é a passagem bíblica encontrada
no primeiro livro de Samuel (I Samuel 28:3-25), na qual o Rei Hebreu Saul consulta uma
necromante, a pitonisa da cidade de Endor,
quando este
deseja aconselhar-se com o espírito do ilustre Juiz de Israel, Samuel1.
Modernamente, em
virtude da grande difusão do espiritismo2,
revelam as pesquisas um crescimento do número de adeptos da doutrina espírita
no Brasil. Diante desse cenário, a temática da consulta ao Plano Espiritual
reveste-se de especial relevo. Elemento basilar da Doutrina, a comunicação com
os homens e mulheres que já viveram na Terra é pratica ordinária que merece,
pois, continuada reflexão crítica, no que diz respeito ao seu uso racional.
Observaremos,
por exemplo, em vasta literatura mediúnica, uma verdadeira avalanche de
revelações espirituais sobre as mais variadas questões científicas, de quase
todas as áreas, sobretudo das ciências históricas e biomédicas. Pretendendo
auxiliar no avanço do conhecimento, anelam proporcionar as peças que faltam
para completar as pesquisas científicas. Diante desses fatos, faz-se justo e
autêntico indagar: os espíritos podem
fornecer aos homens revelações para suas pesquisas e descobertas científicas?
Como
usual, será no tipo de perfeição moral oferecido por Jesus que a humanidade
poderá encontrar o modelo de comportamento a ser imitado. Em conformidade com a
narrativa encontrada em O Evangelho Segundo Marcos3, Jesus
tomou consigo a Pedro, Tiago e João, e os levou, sozinhos, para um lugar
retirado, sobre o alto de um monte, que dizem alguns exegetas seria o Monte
Tabor. Ali Jesus ficara transfigurado diante deles. Suas vestes tornaram-se
resplandecentes, e lhes apareceram Elias com Moisés, dialogando com Jesus. Ao
descerem da montanha, ordenou-lhes Jesus que a ninguém contassem o que tinham
visto, até que o Filho do Homem tivesse ressurgido, após a Sua morte física. Jesus pediu-lhes que silenciassem,
não obstante soubesse – profundamente – que a divulgação daquele fenômeno
atrairia inúmeros adeptos para a Causa. Poderia ter desvelado Sua inigualável
qualidade fluídica, conquanto, usara mais um de seus silêncios homéricos como
exemplificação aos que Lhe exigiam a revelação miraculosa da Sua condição Messiânica:
os homens deveriam, por si mesmos, descobrir a verdade – Ele era O Cristo de
Deus – pela simples observação direta de Suas atitudes, palavras, sentimentos e
caridade.
Essa
passagem evangélica oferece aos estudiosos do espiritismo ensejo para severas
reflexões sobre as indagações que devem ser feitas aos médiuns/espíritos. E
para balizar a interpretação correta e definitiva para essa questão, recorramos,
sempre, ao fiel apóstolo de O Espírito de Verdade: Allan Kardec, o Codificador
do Espiritismo. Nos seus quase trinta livros encontraremos as elucidações
magistrais, como as seguintes diretrizes:
“A Ciência é
obra do gênio; só deve ser adquirida pelo trabalho, pois é somente pelo
trabalho que o homem se adianta no seu caminho. Que mérito teria, se apenas
precisasse interrogar os Espíritos para saber tudo? A esse preço, qualquer
imbecil poderia tornar-se sábio. O mesmo se dá com as invenções e descobertas
da indústria”. [...][...] Deus disse ao homem: tirarás teu alimento da terra,
com o suor de teu rosto; admirável figura que pinta a condição em que ele,
aqui, se encontra; ele deve progredir em tudo, pelo esforço do trabalho; se lhe
dessem as coisas inteiramente prontas, de que lhe serviria sua inteligência?
Seria como o estudante, cujo dever, um outro fizesse.”4
“Os
espíritos não vêm para livrar o homem do trabalho, do estudo e das pesquisas; eles não lhe
fornecem nenhuma ciência inteiramente pronta, e o que o homem pode descobrir
por si mesmo, eles deixam entregue às suas próprias forças”.5
“Quando chega o
tempo de uma descoberta, os Espíritos encarregados de lhe dirigir a marcha,
procuram o homem capaz de levá-la a bom termo e lhe inspiram as ideias necessárias,
de maneira a lhe deixarem todo o mérito, porquanto estas ideias, é preciso que
ele as elabore e as execute. O mesmo acontece com todos os grandes trabalhos da
inteligência humana. Os Espíritos deixam cada homem na sua esfera de ação;”4
Tenhamos,
por conseguinte, a circunspecção, o bom-senso, o espírito crítico e a
responsabilidade ensinados e exemplificados por Jesus e Allan Kardec, especialmente no que diz respeito às
revelações que cabem aos cientistas desvelarem, divulgando as orientações dos
mentores com extrema prudência, guardando-nos de dar precipitadamente
como verdades descobertas que competem aos pesquisadores e ao “tempo” desvendarem.
Que sejam noticiadas apenas como
probabilidades, se forem de
irretocável lógica e concordantes com a ciência, sob pena de, agindo sem
o necessário zelo, estarmos prestando um desserviço à Doutrina que tanto
amamos.
1.
KARDEC, Allan: Invocações.
Definições
Espíritas, Vocabulário Espírita contido na primeira edição de O Livro dos
Médiuns. 1ª Ed., Niterói: Publicações Lachâtre, 1997. p. 78-80.
2.
Censo Demográfico
do IBGE ano 2010
3. BÍBLIA.
Português. Bíblia de Jerusalém. Nova edição rev. e ampl. São Paulo:
Paulus, 2002. 3 a. Impressão: 2004. O
Evangelho Segundo Marcos, Cap. 9, versículos 2 ao 9. p. 1772.
4.
KARDEC, Allan: “294. Perguntas Sobre as
Invenções e Descobertas”. O Livro dos
Médiuns.
Tradução de Maria Lúcia Alcantara de Carvalho. 1ª Ed., Rio de Janeiro: Leon
Denis Gráfica e Editora, 2010. Segunda parte, Capítulo XXVI, Itens 28 e 29. p.
366-368.
5.
Idem. A Gênese. Os Milagres e As Predições Segundo o
Espiritismo. Tradução de Albertina Escudeiro Sêco. 1ª Ed., Rio de Janeiro, Leon
Denis Gráfica e Editora: 2007. Cap. I, item 60. p. 58.