Autor
Fabiano Pereira Nunes. Publicado na REVISTA CULTURA ESPÍRITA, do Instituto de
Cultura Espírita do Brasil, ano IV, n. 47, fevereiro de 2013. p. 15.
O
APÓSTOLO DA VERDADE
“Eu estou convosco, e meu apóstolo vos
ensina.” O Espírito de
Verdade1. Paris, 1861.
O suíço Johan H Pestalozzi
foi o grande arauto da moderna pedagogia. No célebre Instituto de Yverdun, na Suíça,
o mestre Pestalozzi lançou as bases para a reforma da Ciência do Ensino.
Dentre os seus
mais eminentes discípulos destacou-se um moço, destinado a ser o Codificador do
Espiritismo, o jovem Hippolyte Léon Denizard Rivail, que Pestalozzi estimava
como a um filho, e em quem reconhecia uma inteligência fora do comum, ao ponto
de delegar ao adolescente Rivail, com 14 anos, a responsabilidade de substituí-lo
na condução dos cursos, por ocasião das suas viagens.
Pois foi sob a aura do Mestre Pestalozzi que o professor H. L.D. Rivail transformou-se num dos mais notáveis pedagogo, linguista e cientista da história da França, publicando mais de 20 livros didáticos, versando sobre educação pública, matemática, história, física, química, fisiologia, astronomia, língua francesa e outros idiomas, assim com célebres traduções, livros esses que em sua maioria foram premiados pelas principais sociedades de ciências e artes da sua época, alguns deles ainda editados até a atualidade. O Governo Francês disponibilizou obras do insigne Mestre de Lyon na Internet, digitalizadas no acervo virtual da Bibliothèque Nationale de France2.
O professor Rivail adotou o pseudônimo Allan Kardec para a autoria de suas obras espíritas, para que as pessoas analisassem as ideias contidas nos livros espíritas sem levar em consideração seu enorme prestígio pessoal, e a excelente reputação de suas publicações anteriores. Foram cerca 30 livros espíritas no idioma francês, e hoje contamos com mais de 22 obras Kardecianas em português.
O professor Allan Kardec, era portador de uma raríssima capacidade de trabalho, de uma genial antevisão, e de uma férrea determinação em solucionar todas as questões relativas à interpretação dos Evangelhos de Jesus. Por isso dedicou mais de uma década ao trabalho de estudar os Textos Sagrados, a fim de descobrir o significado original das máximas de Jesus, anelando interpretar as palavras do Cristo conforme os destinatários originais devem tê-la ouvido, possibilitando desvendar qual era a intenção original do Nazareno ao pronunciá-las, imergindo ao mais profundo do seu significado.
Graças a sua elevadíssima estatura espiritual, ao seu agudo senso de professor detentor de enciclopédico conhecimento linguístico e científico, mas sobretudo, graças também a intensa e constante assistência de O Espírito de Verdade e Sua Equipe Espiritual, Allan Kardec realizou a mais excelente hermenêutica para O Novo Testamento, desvelando o sentido e o significado essenciais dos ensinos de Jesus, desenvolvendo a mais abrangente interpretação das Sagradas Escrituras, sempre à luz das Leis de Deus ou Leis Naturais.
Como exemplo, poder-se-ia observar a qualidade didática do legado do Codificador no texto contido em O Evangelho Segundo o Espiritismo3, em que o Apóstolo de O Espírito de Verdade elucida-nos que as matérias contidas nos Evangelhos podem ser divididas em cinco partes: os milagres; as predições; as palavras que serviram para o estabelecimento dos dogmas da Igreja; o ensinamento moral; e os atos comuns da vida do Cristo.
Essas divisões são, corajosamente, estudadas permeando todas as obras publicadas pelo Codificador do Espiritismo. Nada obstante, para fins didáticos, poder-se-ia atribuir uma obra Kardeciana para o estudo de cada parte, a saber:
a) Os milagres de Jesus: são analisados e elucidados na obra “A Gênese, Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo”;
b) As predições ou profecias dos evangelhos: avaliadas e explicadas na obra “A Gênese, Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo”;
c) As palavras que serviram para o estabelecimento dos dogmas da Igreja: criticadas e esclarecidas na obra “O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo”.
d) O ensinamento moral: desenvolvido no livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”;
e) Os atos comuns da vida do Cristo: não por acaso, Allan Kardec não desenvolveu os aspectos históricos e historiográficos da vida de Jesus de Nazaré, em nenhuma de suas obras. Pedimos licença ao querido leitor para só desenvolver o item “e” posteriormente em oportuno artigo, adiantando, porém, que não é objetivo essencial do espiritismo concorrer com as ciências, mormente as ciências históricas. Caberá à própria ciência desvelar os fatos históricos da vida do Cristo.
Reflitamos, conquanto, sobre a missão do espiritismo na sua condição de doutrina cientifica e filosófica, com consequências morais e religiosas: restabelecer o cristianismo ao seu sentido puramente espiritualista4.
Nas obras de Allan Kardec encontram-se as magistrais dissertações filosóficas e morais para as máximas e ensinos evangélicos. E na busca das mais excelentes exegese e hermenêutica para os evangelhos, lembremo-nos das palavras do espírito João, o evangelista: [...] “Meus bem-amados, eis chegados os tempos em que os erros, explicados, se tornarão verdades; nós vos ensinaremos o sentido exato das parábolas, e vos mostraremos a correlação poderosa que une o que foi ao que é. Em verdade, vos digo: a manifestação espírita vai crescer no horizonte, e eis aqui o seu enviado (Allan Kardec) que vai resplandecer como o Sol sobre o cume das montanhas5.”
REFERÊNCIAS
1.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o
Espiritismo. Tradução de Albertina Escudeiro Sêco. 5. Ed., Rio de Janeiro, CELD
Ed: 2010, cap. VI, item 6. P. 135
2.
O prezado leitor poderá fazer o download de
algumas obras escrevendo o nome “H. L. D. Rivail” no espaço
para busca do site da Bibliothèque Nationale de France, em < http://gallica.bnf.fr/?lang=PT
>
3.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o
Espiritismo. Tradução de Albertina Escudeiro Sêco. 5. Ed., Rio de Janeiro, CELD
Ed: 2010, Introdução, item 1. p. 19-22.
4.
Idem. KARDEC, Allan. A Revista Espírita.
Jornal de Estudos Psicológicos. Ano sexto, novembro de 1863. Tradução de
Evandro Noleto Bezerra. 3. Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. p. 476.
5.
Idem. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Tradução de Albertina Escudeiro Sêco. 5. Ed., Rio de Janeiro, CELD Ed: 2010,
cap. VIII, item 18. p. 161.