EMPATIA
(Autor:
Fabiano Pereira Nunes)
Artigo publicado
na REVISTA CULTURA ESPÍRITA, do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, ano
IV, n 39, Junho de 2012, p. 15.
Dando continuidade às reflexões acerca da
sociedade hodierna, ressaltaríamos que cada vez mais são valorizadas as competências
sociais do individuo, algumas vezes, colocando-as num patamar acima das
competências técnicas. Isso por que as qualidades emocionais tem demonstrado
grande relevância, não apenas para o trabalho em equipe, mas também para a
prosperidade dos indivíduos, das instituições, e da sociedade1.
Dentre
as competências que determinam como lidamos com os relacionamentos destaca-se a
empatia1. Capacidade de se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela
sente, de querer o que ela quer, de apreender do modo como ela apreende2, a
empatia traz como consequência a preocupação com as necessidades e os
sentimentos do semelhante, assumindo interesse proativo pelas suas carências1.
Como usual, será
no padrão humano demonstrado por Jesus que encontraremos o modelo de
comportamento que toda a humanidade pode pretender3. Observaremos, por exemplo,
a expressão da grande capacidade empática de Jesus por ocasião da morte
aparente4 de Lázaro, conforme descrita em O Evangelho Segundo João5.
Lázaro de Betânia, irmão de Maria
e de Marta, se achava doente. As duas irmãs mandaram, então, levar tal notícia
para Jesus. A essa notícia Jesus esclarecera: "Essa doença não é mortal,
mas para a glória de Deus, para que, por ela, seja glorificado o Filho de
Deus".
Sabidamente, Jesus amava aquela família, contudo, quando soubera
que Lázaro se achava enfermo permaneceu ainda por dois dias no lugar em que se
encontrava, e só depois dissera aos discípulos "Vamos outra vez até a
Judéia!", causando surpresa geral.
Posteriormente, Jesus acrescentara que "Nosso
amigo Lázaro dorme, mas vou despertá-lo", ao que os discípulos Lhe responderam:
"Senhor, se ele está dormindo, vai se salvar!" No entanto, para a
perfeita compreensão do que significaria o sono de Lázaro, Jesus objetara que
ele teria morrido. Ao chegar à Judeia, Jesus encontrara Lázaro já sepultado
havia quatro dias.
Marta sofria e chorava, a despeito das tentativas de
reconforto por parte de amigos e familiares. Sua irmã Maria, chegando ao
sepulcro onde Jesus estava, vendo-O, se lhe prostrou aos pés e disse:
"Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido".
Quando Jesus
a viu chorar, e também os judeus que a acompanhavam, comoveu-se interiormente e ficou
conturbado. E perguntou: "Onde o colocastes?" Responderam-lhe:
"Senhor, vem e vê!" Jesus
chorou. Diziam, admirados, os judeus: "Vede como ele o amava”.
Nessa comovente passagem
evangélica, destaca-se a impressionante demonstração da sensibilidade de Jesus.
Conquanto soubesse – pela Sua impar presciência6 – não se tratar de um caso de
morte biológica, mas de um fenômeno de letargia4, Jesus se integrou à emoção de
seus amigos, comoveu-se, perturbou-se, e chorou tão intensamente ao ponto de
desassossegar os espectadores.
Hoje, como nunca, urge lutar contra a insensibilidade, contra a
indiferença e contra a frieza diante da dor alheia. E ante essa demanda se evidência
a mais excelente interpretação para a problemática, feita por Allan Kardec, o
Codificador do Espiritismo.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, o incansável
missionário do Espírito de Verdade apresenta sublime hermenêutica para os
ensinos morais contidos nos evangelhos, demonstrando - de maneira insofismável
- ser a caridade a alma da doutrina do Cristo. E para elucidar sobre o caminho
a ser seguido para se chegar ao sentimento que nutre a caridade, o mestre
lionês publica a seguinte instrução do espírito Miguel7:
[...] “A piedade é a virtude que mais vos
aproxima de Deus; é a irmã da caridade que vos conduz a Deus. Ah! Deixai que o
vosso coração se enterneça diante das misérias e dos sofrimentos dos vossos
semelhantes”.[...]
[...]“A piedade, uma piedade bem sentida, vem do amor; o amor
é devotamento; o devotamento é o esquecimento de si mesmo, e este esquecimento,
esta abnegação em favor dos infelizes, é a virtude por excelência, aquela que o
divino Mestre praticou em toda a sua vida e ensinou na sua doutrina tão santa e
tão sublime. Quando essa doutrina voltar à sua pureza primitiva, quando for
admitida por todos os povos, dará a felicidade para a Terra, e nela fará
reinar, finalmente, a concórdia, a paz e o amor. O sentimento mais próprio para
vos fazer progredir, domando o vosso egoísmo e o vosso orgulho, aquele que
dispõe vossa alma à humildade, à beneficência e ao amor do vosso próximo, é a
piedade, essa piedade que vos comove até o mais íntimo do vosso ser, diante dos
sofrimentos dos vossos irmãos; que vos faz estender-lhes a mão caridosa e vos
arranca lágrimas de simpatia. Jamais sufoqueis, em vossos corações, essa emoção
celeste; não façais como esses egoístas endurecidos que se afastam dos aflitos,
porque a visão da sua miséria turvaria por um instante a sua feliz existência.
Receai ficar indiferentes, quando puderdes ser úteis.”[...]
Lutemos,
porquanto, contra a insensibilidade. Coloquemo-nos na posição emocional e
social do semelhante, incorporando ao nosso patrimônio moral a nobre empatia.
Dessa forma, seremos verdadeiramente felizes, tal qual Jesus o fora e ensinara.
1 . GOLEMAN, Daniel. Trabalhando com a Inteligência Emocional.
Tradução M H C Cortês. Editora Objetiva, Rio de Janeiro: 1999. p.15-43.
2 . HOUAISS, Antonio; Dicionário
Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, versão 1.0. Editora Objetiva
Ltda. 2009.
3 . KARDEC,
Allan. Le Livre Des Esprits. Quatorzième Édition. Didier Et Cie
Libraires-Éditeurs, Paris: 1866. Q.625. p. 268. [...] “Jésus est pour l homme le type de la perfection morale à laquelle
peut prétendre l humanité sur
la terre” [...].
4 . Idem A Gênese. Os Milagres e
As Predições Segundo o Espiritismo. Tradução de Albertina Escudeiro
Sêco. 2. Ed., Rio de Janeiro, Leon Denis Gráfica e Editora: 2007. Cap. XV, item
40. p. 356.
5 . BÍBLIA.
Português. Bíblia
de Jerusalém. Nova
edição rev. e ampl. São Paulo: Paulus, 2002. 3 a. Impressão: 2004. O Evangelho
Segundo João, cap. 11, versículos 1 ao 44. p. 1871-73.
6 . KARDEC, Allan. A Gênese. Os Milagres e As Predições Segundo o Espiritismo. Tradução de Albertina Escudeiro Sêco. 2. Ed., Rio de Janeiro, Leon
Denis Gráfica e Editora: 2007. Cap. XVI. p. 381-92.
7 . Idem. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Tradução de Albertina Escudeiro Sêco. 5. Ed., Rio de Janeiro, Leon Denis
Gráfica e Editora: 2010. Cap. XIII, item 17, p. 241-243.