BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. Nova edição rev. e ampl. São Paulo: Paulus, 2002. 3 a. Impressão: 2004.
# O Evangelho Segundo Lucas 4:14-30 p. 1794-5
Jesus inaugura sua pregação
14 Jesus voltou então para a Galileia, com a força do Espírito, e sua fama espalhou-se por toda a região circunvizinha.
15 Ensinava em suas sinagogas e era glorificado por todos.
15 - e era glorificado por todos
Glorificado por todos
Glória
I) Contexto do Antigo Testamento
I. 1) Termo hebraico Kavod tem por raiz a ideia de peso, honra ou dignidade
. 2) No Pentateuco de Moisés, a Glória de Javé designa a Presença de Deus na humanidade, acompanhada de fenômenos físicos como voz direta, escrita direta e materializações luminosas. A Glória de Javé saiu com o Seu povo do cativeiro do egito, e era exibida na nuvem que os guiava no deserto. (ex 16:7-10). A nuvem pousou sobre o Monte Sinai, onde Moisés viu a Glória do Senhor, recebendo as tábuas da Lei (Ex. 24:15-18). A Glória de Javé tomou conta do tabernáculo, templo móvel elaborada por Moisés (Ex 40: 35-5), especialmente quando ele realizava o sacrifício dos animais (Lv 9, 6 e 23)
I.3) “E ele (O Messias) se manterá, e governará pela força do seu Deus Eterno, e eles retornarão, e agora ele será glorificado até o extremo da Terra, e é ele que fará a paz.” (Miquéias, V: 3 e 4.)
II ) Contexto do Novo Testamento
II.1 ) Do hebraico Kavod foi transliterada para o grego “doxa”, que significa opinião, como em ortodoxo, ou também reputação.
II.2 ) Encontraremos referências neotestamentárias da Glória de Deus na presença e na obra do Cristo, através de sinais e prodígios. Para entender sobre os sinais e prodígios leiamos “A Gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo”.
II. 3) Glória sempre atribuída a Deus, no entanto, significa a Presença de Javé no novo Tabernáculo, armado na carne humana de Jesus (Jo 1:14)
II. 4) Ligação com Hino cantado pelo anjos (mensageiros) que foram bucas os pastores em vigília, por ocasião do nascimento de Jesus: “A Deus nas Alturas, Glória. A Seu povo na Terra, Paz!”
III) Reflexão
Desde o tempo de Jesus até os dias atuais, todos os cristãos O glorificaram. No entanto, isso o fazemos mais com os lábios do que com nossos atos.
É preciso refletir sobre o quanto já incorporamos a moral cristã em nossas vivências, sobretudo em nossa relação para com os familiares, a sociedade, e aqueles que estão sob risco social e carecem de nossa ajuda.
Sobre isso, O Codificador nos trouxe uma sublime interpretação, que está contida em O Evangelho Segundo O Espiritismo, a propósito da máxima do Cristo contida em Mateus, XXV: 31 a 46.
Vejamos:
1. Ora, quando o Filho do Homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, sentar-se-á no trono da sua glória; e, estando todas as nações reunidas diante dele, separará umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos bodes; e ele colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda. Então o rei dirá àqueles que estiverem à sua direita: “Vinde vós que fostes abençoados por meu Pai, tomai posse do reino que vos foi preparado desde o começo do mundo, porquanto eu tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, tive necessidade de teto e me hospedastes, estive nu e me vestistes, estive doente e me haveis visitado, estive preso e me fostes ver.”
Então os justos lhe perguntarão: “Senhor, quando foi que nós te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos sem teto e te abrigamos, sem roupas e te vestimos, ou enfermo, ou no cárcere, e te fomos visitar?” E o rei lhes responderá: “Em verdade vos digo, todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais humildes, foi a mim que o fizestes.”
Em seguida, ele dirá àqueles que estão à sua esquerda: “Afastai-vos de mim, malditos; ide para o fogo eterno que foi preparado para o diabo e seus anjos; pois tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; tive necessidade de abrigo e não me agasalhastes; estive sem roupas e não me vestistes; estive doente e na prisão e não me fostes visitar.”
Então eles lhes responderão: “Senhor, quando foi que nós te vimos com fome ou com sede, sem abrigo ou sem roupas, doente ou na prisão e deixamos de te assistir?”
E ele lhes dirá: “Em verdade vos digo, todas as vezes que deixastes de dar assistência a um destes mais humildes, foi a mim que deixastes de ajudar.”
E estes últimos irão para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna. (Mateus, XXV: 31 a 46.)
IV) A Interpretação de Allan Kardec para esses ensinos se encontram em O Evangelho Segundo O Espiritismo, CAPÍTULO XV - FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO – ITEM 3
No quadro que Jesus nos deu do juízo final, é preciso, como em muitos outros casos, separar o que pertence à linguagem figurada, à alegoria. Para falar a homens como aqueles a quem se dirigia, incapazes ainda de compreender as coisas puramente espirituais, Jesus devia apresentar imagens materiais, impressionantes e capazes de abalar. Para ser melhor compreendido, precisava não se afastar muito das idéias do seu tempo, quanto à forma, reservando sempre para o futuro a verdadeira interpretação das suas palavras e dos pontos sobre os quais Ele não podia explicar-se claramente. Mas, ao lado da parte acessória e fi gurada do quadro, há uma idéia dominante: a da felicidade que aguarda o justo e a da infelicidade que espera aquele que é mau.
Nesse julgamento supremo, quais são os considerandos da sentença? Em que se baseia a sindicância? O juiz pergunta se foi preenchida esta ou aquela formalidade, observa mais ou menos esta ou aquela prática exterior? Não, Ele só indaga por uma coisa: a prática da caridade, e se pronuncia dizendo: “Vós que socorrestes vossos irmãos, passai à direita; vós que fostes insensíveis com eles, passai à esquerda.” Pergunta pela ortodoxia da fé? Faz alguma distinção entre aquele que crê de um modo e o que crê de outro? Não, visto que Jesus coloca o samaritano, olhado como herético, isto é, contrário ao que foi definido pela Igreja em matéria de fé, mas que teve amor pelo próximo, acima do ortodoxo, que falta com a caridade. Jesus não considerou a caridade somente como uma das condições para a salvação, mas como a única condição para se alcançá-la; se houvesse outras a serem cumpridas, ele as teria citado. Se Jesus coloca a caridade em primeiro lugar entre as virtudes, é porque ela encerra implicitamente todas as outras: a humildade, a doçura, a benevolência, a indulgência, a justiça, etc., e porque ela é a negação absoluta do orgulho e do egoísmo.
V) Conclusão:
[...] A caridade é a alma do Espiritismo; ela resume todos os deveres do homem para consigo mesmo e para com os seus semelhantes, razão por que se pode dizer que não há verdadeiro espírita sem caridade.” [...]
Título: O Espiritismo é uma religião?
Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos. Ano XI, dezembro de 1868. Tradução Evandro Noleto Bezerra: FEB, 2005; p. 491-5