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“EU, PORÉM, VOS DIGO”
Notáveis pesquisadores têm defendido
a tese de que o “Jesus Histórico” teria assumido uma postura revolucionária 1, face às práticas correntes na
sociedade religiosa do Seu tempo.
Realmente, para vários estudiosos das
ciências históricas, a análise das assertivas contidas nos Evangelhos
desvelaria a atitude de um religioso Judeu do Mediterrâneo 2 em antítese com os preceitos judaicos vigente à Sua época, que,
por conseguinte, poder-se-ia considerar como um sedicioso.
Por exemplificação, observa-se na
Pregação do Monte, conforme descrita no capítulo cinco de O Evangelho Segundo
Mateus, um inequívoco intuito de desconstruir um pensamento vigente, substituindo-o
por um conceito totalmente novo. O Mestre Amantíssimo empregara repetidas vezes
a expressão: “Ouvistes que foi dito aos antigos (...)”, acompanhada, a
seguir, de uma citação dos Livros Mosaicos; e concluindo a elocução, conduzira
o pensamento dos ouvintes a uma nova interpretação da Lei Divina, ao aplicar
expressão “Eu, porém, Vos digo (...)”. Por
tal razão, àquele tempo Jesus fora perseguido pelas autoridades do Templo de
Jerusalém como um antagonista das Leis de Moisés, conquanto Seus discursos fariam
frontal contradita ao Pentateuco Mosaico.
Escrevera Moisés no Torá:
Êxodo, 21:24-25; olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé,
queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe.
Levítico,
24:19-21;
Quando também alguém desfigurar o seu próximo, como ele fez, assim lhe será
feito: quebradura por quebradura, olho por olho, dente por dente; como ele
tiver desfigurado a algum homem, assim se lhe fará. Quem, pois, matar um animal
restituí-lo-á; mas quem matar um homem será morto.
Nada obstante, pregara Jesus no Monte das Beatitudes:
Mateus,
5:38 -39; Ouvistes que foi dito:
Olho por olho, dente por dente. Eu,
porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na
face direita, volta-lhe também a outra.
Mateus
5:43-44; Ouvistes que foi dito: Amarás o teu
próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos
inimigos e orai pelos que vos perseguem.
Em a perspectiva
histórica, torna-se, pois, melhor compreensível o porquê da não aceitação - pela
Religião Judaica - da condição Messiânica de Jesus.
Conquanto, dezenove
séculos após, Allan Kardec, pseudônimo do eminente cientista e pedagogo francês
Hipollyte Léon Denizard Rival - Apóstolo fiel e incansável de O Espírito de
Verdade - elucida, definitivamente, tal problemática, em admirável hermenêutica
3:
“[...] A moral ensinada por Moisés era apropriada ao estado de adiantamento em
que se encontravam os povos a quem ela estava destinada a regenerar. Esses
povos, semi-selvagens quanto ao aperfeiçoamento da alma, não teriam
compreendido que se pudesse adorar a Deus sem a realização de holocaustos, nem
que fosse preciso perdoar a um inimigo. A inteligência deles, notável sob o
ponto de vista da matéria e mesmo sob o das artes e das ciências, era muito
atrasada em moralidade, e não seria convertida sob o domínio de uma religião
inteiramente espiritual. Era-lhes necessária uma representação semi-material,
como a que a religião hebraica lhes oferecia. Os holocaustos falavam aos seus
sentidos, enquanto a idéia de Deus falava ao seu espírito. O Cristo foi o
iniciador da moral mais pura, mais sublime; da moral evangélico-cristã que deve
renovar o mundo, aproximar os homens e torná-los irmãos; que deve fazer jorrar
de todos os corações humanos a caridade e o amor ao próximo, e criar, entre
todos os homens, uma solidariedade comum; enfim, de uma moral que há de
transformar a Terra, e dela fazer uma morada para espíritos superiores aos que
hoje a habitam. É a lei do progresso, à qual a Natureza está submetida, que se
cumpre, e o Espiritismo é a alavanca da qual Deus se utiliza para fazer a
humanidade avançar. [...]”3
Outrossim, deveras relevante a
perspectiva descortinada pela ciência médica, em transcendente aliança com a
Doutrina Espírita. Em artigo publicado na
revista Psychological Science 4,
pesquisadores da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, observaram que
orar pelo bem do cônjuge auxilia na disposição por perdoá-lo, sobretudo quando
a oração for feita na iminência de conflitos. No trabalho científico, as
pessoas deveriam, em primeiro lugar, fazer uma descrição da pessoa por quem
fariam a oração. Depois de apenas uma oração, os voluntários se mostraram mais
dispostos a compreender o ponto de vista do outro e aceitar suas desculpas, em
claro processo de empatia. O estudo científico descreve, do mesmo modo, um
segundo experimento no qual os voluntários fizeram orações diárias por um amigo
próximo durante quatro semanas, também demonstrando o poder apaziguador da
prece.
Ao
fanal da ciência e da Exegese Kardeciana, apreenderemos, porquanto, que Jesus não
fora um subversor das Escrituras Sagradas, mas, ao contrário, notabilizara-se
como O Mais Perfeito Intérprete das Leis Divinas, na história da civilização
humana.
1. MEIER,
John P. Um Judeu Marginal: repensando o Jesus histórico. Vol. I. Rio de
Janeiro, Imago Ed: 1993.
2. CROSSAN,
John D. Jesus, Uma Biografia Revolucionária.
Rio de Janeiro, Imago Ed: 1995.
3. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Albertina
Escudeiro Sêco. 1. Ed., Rio de Janeiro, CELD Ed: 2008. Cap.I, item 9.
4. Comprovação do poder pacificador da oração.
In: Revista Mente e Cérebro, edição
online. Março de 2010. Capturado de <http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/comprovacao_do_poder_pacificador_da_oracao.html>
em 01 de outubro de 10.